09/06/10

O que têm (ou não), os astronautas

Tínhamos de voltar a estar juntos, não tínhamos?
Tínhamos de beber, de falar de tudo e de nada e voltar a beber.
Tinhas de cair. Tinha de me arrefecer.
Tínhamos que discutir, também. Tu gostas de discutir comigo… Dá-te tusa, acho eu.
Tínhamos que nos deitar na mesma cama.
Tinhas que te pôr em cima de mim e eu tinha que não te dizer não…
Tinhas que me beijar, tinha que te morder, tínhamos que nos mamar…
Tinhas que me estimular, tinhas de foder o estrado da cama…
…e tinhas de foder-me, a mim.

Não tinhas de dizer que gostas de me beijar.
Como não tínhamos sequer que nos beijar, ou abraçar, ou que nos acariciar.
Não tinhas de me envolver nos teus braços, apertar o meu corpo ao teu e pedir para que ficássemos assim…
Não tínhamos de repetir isto na manhã seguinte.

29/03/10

Nobody's (Love) Daughter

Made something better, he kept it for himself
I’m not that stupid, I just need a lot of help
To understand how stupid you really are
Down at the bottom of the ocean I lay down
Nobody’s coming, just continue to drown
And no one here could ever stop my ruin... no no

And I know I’ve got not to fear You’ll get me out
Oh god just get me out of here
Are you astounding us, surrounding us
And asphyxiate all your pain away
Don’t try to win it will only end in disgrace

Nobody’s daughter, she never was, she never will
Be beholden to anyone she cannot kill
You don’t understand how damaged we really are
You don’t understand how evil we really are
And I will dig my own grave I’m miss begotten
I am the last one you save here
And we’ll just sleep forever and forever
Anesthetize all your horrors away
We live inside this black web that you have spun
Greed, your bile is miles away

Don’t tell me I have I lost when clearly I’ve won

I want to see you stretched out on the floor
The world broken doll The world’s shattered whore
And you you can’t walk But you you can crawl
Come on infect us all…
Asphyxiate all your cares away
Don’t try to win it will only end in disgrace

Translucetize the cold light of day
It’s glorious, its ravenous; god I need it
It’s beautiful it’s terrible I’ll just feed it
Coil down to your black dark decay

And I will dig my own grave now
I’m miss begotten
I am the last one you save here
It’s all gone rotten

21/10/09

O rei e as dores

E foi num dia bastante tempestuoso que o rei de espadas recebeu, mais por obrigação do que por gosto, um conjunto peculiar de convidados para jantar. E assim às nove da noite num dos recantos mais sórdidos da sua torre sombria sentaram-se à mesa, para além do rei, a dona otite, a marquesa enxaqueca, o engenheiro dente do siso extraído e a madame ausência de alguém que poderia vir a ser especial.

Carrancudo mas elegante, o rei sentou-se à cabeceira da mesa muito bem decorada por uma toalha cor de vinho e dois candelabros negros e soberbos. Os convidados sentaram-se em seguida muito empolgados com o jantar requintado que seria servido pelo rei, ora não contavam eles que o rei, de forma a demonstrar o seu profundo desagrado com todo aquele ajuntamento, serviria a si próprio um prato de delicioso strogonoff e aos seus convidados um monte de arroz em papa acompanhado de batatas mal cozidas e sem sal.

A refeição iniciou-se assim com caras que não conseguiam disfarçar nem a desilusão nem a revolta. Eis se não quando a marquesa enxaqueca inicia um disparatado discurso acerca das suas grandes façanhas nos territórios das mentes alheias, discurso este que foi interrompido pelo senhor engenheiro dente do siso extraído que se gabou, sem qualquer noção ou bom senso, do quanto as suas proezas eram muito mais consistentes do que a dos outros convidados. E nisto começou uma disputa risível e desesperada por parte de todos os convidados que na tentativa de se afirmarem perdiam gradualmente a consciência total do ridículo. A dona otite gritava, –“é a mim que mais temem”, a madame ausência de alguém que poderia vir a ser especial vociferava –“é de mim que sentem mais falta” e puxava os próprios cabelos, já o senhor engenheiro batia na mesa com palma da mão e jurava a pés juntos que era com ele que todas as criancinhas tinham pesadelos. Chegou ao cúmulo da marquesa enxaqueca atirar um dos sapatos à dona otite enquanto lhe grasnava algo completamente indecifrável devido às torrentes de baba que lhe saiam da boca.

O rei perdeu então a paciência e puxou a toalha, lançando todo o serviço e comida ao chão, numa detonação ensurdecedora. Os quatro convidados ficaram petrificados, com uma expressão de perplexa ignomínia na exacta posição em que se encontravam (a madame ausência no chão agarrada às meias já rasgadas da dona otite que por sua vez puxava os cabelos ao senhor engenheiro, o qual se encontrava em cima da marquesa enxaqueca que lhe mordia a perna).

- “Acho inconcebível” – exclamou o rei – “vocês autoconvidam-se para jantar na minha torre, incomodam-me, eu recebo-vos com a cortesia que merecem e vocês, suas tragédias aberrantes resolvem presentear-me com um festival de abjecção, mesquinhez e nulidade cerebral. Bano-vos do meu reino para um monte de excrementos insignificante que é aquilo que vocês valem e merecem, nem que para isso me tenha que encharcar de drogas e estupefacientes.”
E dito isto, todos os convidados foram automaticamente recambiados para o monte de excrementos apropriado.

19/08/09

Um brinde ao Miguel

Cabelo rapado, olhar maduro e sério
Largo de ombros, lábios carnudos
Alto e masculino, em tudo o meu género
Menos nos olhos, azuis tão cliché

Reparei em ti, fixei-me em ti, dancei para ti
Aproximaste-te lentamente, sem que te pudesse ver
Até que senti as tuas mãos na minha cintura
E dançamos juntos sem nos conhecermos
E beijamo-nos como se isso não importasse

Voltámos a encontrar-se numa esplanada de café
Conversamos naturalmente numa tarde social
No dia seguinte cozinhaste para mim
E de noite fodeste-me como um animal

Um pouco libertos pelo efeito do vinho, fizeste-me…
Diferentes posições em diferentes ritmos
Percorreste-me com a boca pelos lábios, pescoço e mamilos
Continuaste pela barriga, caralho, pernas e pés
Agarraste-me novamente pela cintura e viraste-me
Beijaste-me os gémeos, as nádegas e as costas
E com o peito rijo colado a mim beijaste-me o pescoço
Sussurraste ao ouvido e naquela posição voltaste a enterrá-lo

Pus-me de gatas, concedendo-te a liderança
Alternando entre o teu mastro e dedos, maximizaste-te
Nunca tinha, por tanto tempo, assim levado
Nunca tinha sido tão plenamente saciado

Quis-te mais tempo, quis-te com mais agressividade
E quando recomeçamos fizemo-lo com mais intensidade

Da segunda vez cozinhei eu para ti
Enquanto isso tu, de joelhos, mamavas-me
Vimos um filme, levaste-me para o colchão
E por mais uma noite totalmente me ofereci
E por mais uma noite, rebentaste-me com tesão

Deixamo-nos dormir a foder e foi assim que acordámos
Foi bom, foste simpático, trataste-me bem
Um brinde a ti Miguel, que conheça muitos como tu.

18/06/09

A soma das partes Pt.1

Olá a todos.
Hoje o Sr. Love não está cá. E por ele não estar eu posso escrever. Eu que sou o menino James. Mas não escrevo só porque o senhor Love não está, escrevo porque fiz uma descoberta que quero partilhar.
Não sei se me consigo explicar, mas sabem, eu sempre tive amigos imaginários, isto é um grande problema porque há pouco tempo olhei-me ao espelho e percebi que já não era assim tão menino. Até já tenho um metro e noventa. E dizem que os meninos grandes não podem ter amigos imaginários. E pronto é isso.
Acontece que eles também são eu e eu eles e eles ajudam-me e não posso dizer-lhes para se irem embora só porque os adultos dizem que os meninos crescidos não podem ter amigos imaginários. Acho que eles iam ficar tristes na mesma.
Mas pronto o que têm de ser têm de ser não é? Pronto, então sabem o que eu fiz? Combinei uma reunião com eles para falar com eles e perceber quais é que devem ficar dentro de mim e quais vão mesmo ter de ir embora. Tenho pena deles na mesma mas o Sr. Love diz que têm de ser e ele é muito mandão.
E pronto a primeira foi a mistress Ditta que ela assusta-me um bocadinho e achei que ela ia ficar mais contente de ser a primeira, é que ela acha que deve ser sempre a primeira.Pronto aqui ficam as perguntas que eu fiz e as respostas que ela deu e as perguntas que eu fiz até foram mudadas pelo Sr. Love para parecer que eu sou mais crescido e tudo, se bem que eu acho que a Sra. Ditta tinha percebido na mesma se elas não fossem mudadas mas pronto… Eu já disse que o Sr. Love é muito mandão? Ah sim já disse sim…


James: Mistress, como se auto descreveria?

M.D: Elegante, sensual, sexual, decidida, inteligente, forte… Superior.

James: Existe quem utilizaria apenas a palavra arrogante… O que têm a dizer quanto a isto?

M.D: Absolutamente nada. (Esboçando um sorriso)

James: Isso quer dizer que concorda?

M.D: Não! Quer dizer que enquanto essas características me permitirem conseguir o que quero não me importa o lhe chamam.

James: E o que quer?

M.D: Mais! Mais poder, mais influencia, mais controlo. Ser venerada, pelos ignóbeis inferiores, como a Deusa que sou seria um bom começo.

James: E mais uma vez, há quem diga que todo esse ódio generalizado, não passa de um fachada para esconder as suas fragilidades.

M.D: Em primeiro lugar eu não tenho fragilidades, e em segundo eu não odeio toda a gente.

James: Não?

M.D: Não! Eu julgo-me melhor que toda a gente e isso são duas coisas completamente diferentes.

James: Certo… Bem, as suas proezas são conhecidas em todo o reino de Tyria. Depois de sobreviver à destruição de Ascalon foi um pilar importante no combate ao exército invasor de Charrs, liderou os refugiados numa travessia pela cordilheira gélida até Krita onde desmascarou uma associação de adoradores aos falsos Deuses. Combateu a expansão dos mortos-vivos, recuperou o ceptro de Orr, e uma vez no deserto cristalino ascendeu às divindades que a consideraram digna e capaz de salvar Tyria.

M.D: Esqueces-te que já viajei aos reinos distantes de Cantha e Elona e que já matei um dragão.

James: Façanhas extraordinárias, sem duvida… Ainda mais extraordinárias quando pensamos na sua escolha de profissão, existem vários guerreiros, monges, necromantes, elementaristas e assassinos de renome, mas na casta de mesmers isto é raro. O que pensa sobre isso?

M.D: Em primeiro lugar o número de mesmers é reduzido quando comparado com outras profissões, se por um lado existem alguns requisitos para esta profissão como o bom gosto refinado, inteligência acima do normal e habilidade invulgar, por outro é bastante difícil amestrar os atributos de ilusão e dominação desta profissão. De qualquer forma a maior parte dos meus colegas prefere passar as suas vidas em bibliotecas ou dedica-las à glória dos grandes palcos dramáticos.

James: E esse mundo não a fascina?

M.D: O mundo imaginário e metafísico fascina-me imenso… Ou não seria eu uma mesmer… Mas o que pretendo conquistar é o mundo real e por isso devo viver nele.

James: E porque seleccionou a necromancia como profissão secundaria?

M.D: Porque as artes negras possibilitam a conquista de poder como nenhuma outra. E para além disso divertem-me.

James: Err… Divertem-na?

M.D: Sim. Ainda me lembro quando eu e a Kalium fizemos a travessia da selva de Maguma. Ela incinerava todos os nossos inimigos numa determinada área e daí eu criava um exército de horrores de carne para lutarem por nós… Bons tempos.

James: Ah sim a elementarista Kalium, acho que todos ouviram falar do grande caos que as duas provocavam quando se uniam… Que tipo de sentimentos nutre por ela?

M.D: (Risos) Não sou uma pessoa muito sentimental mas gosto dela, é uma boa companheira. Devo confessar que o seu gosto para roupas é simplesmente desastroso e aflitivo… Mas gosto dela.

James: Pode descrever-me o seu estilo e capacidades de luta?

M.D: Como deve imaginar a força bruta não é o meu forte… A minha estratégia é a subversão. Posso anular as habilidades dos meus inimigos e redireccionar os seus ataques contra eles próprios. Posso dobrar a realidade e escoar ou drenar as suas bases de energia. Prefiro confundir e iludir os oponentes de forma a negar-lhes qualquer hipótese de reacção.

James: Muito bem. Terminamos por aqui… Muito obrigado.


Eu decidi que o melhor era a Sra. Ditta passar a fazer parte de mim, sabem é que ela não é assim tão má como parece afinal ela ajudou muitas pessoas mas pronto não é muito simpática. Mesmo assim fica porque é forte, porque sabe conseguir o que quer e isso é uma coisa boa. Conheço pessoas que deviam ter uma mistress Ditta como amiga imaginaria assim não iam parecer tão fraquinhas e indecisas…
Foi por isso que ela ficou.
Àaaaaa e não contem ao Sr. Love que eu escrevi isto para ele não se zangar tá bem ?

20/04/09

Dignificação

Fui eu, fui outros, fui o que quis ser e o que não queria
O meu eu decompôs-se em tantos análogos
Que quando os tentei associar de novo já não conseguia

Quis experimentar tudo, quis fazer tudo, quis possuir tudo
Por provar não ficaram festas, drogas nem pessoas
Fartei-me de fingir, fartei-me de aparências, fartei-me do mundo
Fartei-me das drogas, das festas mas ainda mais das pessoas

Perdi a noção do ridículo, perdi a paciência para modas

Acordei em sítios que não reconheci a princípio
Acordei com tufões por detrás dos olhos mas que zuniam fora dos ouvidos
Fiz sexo no meio da rua, fiz sexo com desconhecidos
Ocupei-me mais de decadência do que dos que me eram queridos
A esses, estranhamente foi a quem ofereci mais luta
Fui egoísta, fui mau, fui bom, fui morto fui até ... uma puta

Como disse fartei-me. Fartei-me de festas. Fartei-me de ressacas
Fartei-me de desconhecidos, fartei-me de quecas baratas
Fartei-me de invejas e críticas vindas de falhados
Porque sem o desejar tive aquele que mais desejam
Nunca estive com substitutos, nunca existiram usados
Talvez um dia se mordam e em merda se desfaçam

E então cheguei aqui, chegou a altura para recomeçar
Quem recupera a auto-estima pode recuperar a dignidade
Cheguei ao ponto onde deixo de rastejar para começar a escalar
Quem mentiu como menti já não consegue oferecer cordialidade

Visto-me de espinhos de novo

22/03/09

Colisões

E hoje decido deixar-vos algo que não sendo meu é contudo um pouco de mim. Numas alturas mais do que outras, claro.

E porque é uma dessas alturas, porque é a mulher que o mundo ama odiar, porque é sexual não sendo obrigatoriamente sensual, porque é explosiva e visceral, porque fez escolhas péssimas, porque não tem medo de as fazer, porque é decadente, porque grande parte da sua vida foi decadente,
porque sempre foi problemática, porque sempre foi sobrevivente.
Porque é por tudo isso que gosto dela.
Fica então uma versão demo de uma das musicas que fará parte do próximo álbum, escrito durante os anos que esteve em reabilitação e uma escolha minha na fotografia.

Car Crash
There's a ghost on the highway, And I want to run it down,
There's a phantom in my bed, And I'm all alone now.
I've seen every hotel, I've seen every hell,
There's nothing I haven't done, There's no one I haven't had.

Would you be there when the lights, When the lights get shot right out?
Would you be there when the roof, When the roof comes crumbling down?

And I know myself too well, And the Devil speaks to me,
And he's got me pinned down now, Telling me I'm so empty.
Oh, just say you're sorry now, And you'll never do it again,
Take the edge right off and keep it, Coz you'll never be high again.

Would you be there when the lights, When the lights get shot right out?
Would you be there when the roof, When the roof comes crashing down?
Would you be there when the devil, When the devil comes for me?
Would you be there when the lights, Go black and empty?

And I live in a box, And I die in this hole.
And you hold the keys, To this zip.
And I don't wanna go, But I can't seem to come,
And it's not up to me, It's up to you.

And at all tomorrows parties, I will be there, not at one,
And when you all start to miss me, Oh, just pass me the gun.
And it's Valentine's again, And there's nothing here for me.

Would you be there when the lights, When the lights come crashing down?
Would you be there when the roof, When the roof comes crumbling down?
Would you be there when the Devil, Takes me to the underground?
Would you be there when the night, Stays night all year around?
Would you be there in the ice? In the frost and cold and freeze?
Would you be there any time? When I'm here, I'm on my knees?




12/03/09

Poder ou não poder, sem qualquer questão

Posso ser teu amigo, posso querer-te bem
Posso gostar de ti e poderia até vir a gostar mais
Posso querer estar contigo e posso gostar de estar em ti
Posso ter uma conversa interessante, posso oferecer-me a ti
Posso passear contigo e posso fazer-te um broche enquanto conduzes
Posso simplesmente dormir agarrado a ti ou fazer-te vir na minha boca sem que tenhas de te tocar
Posso ir ver um museu ou uma exposição e posso deixar que me olhes quando estou nu
Posso querer conhecer o teu mundo, podes ser das poucas pessoas que permito no meu
Posso ter retirado a mascara contigo revelando-me no interior
Posso gostar que gostes das minhas pernas e gostar mais ainda que elogies as minhas mamadas
Posso combater a teu lado, caçar um dragão, procurar um tesouro ou fazer-te companhia num chá com a lebre e o chapeleiro
Poderia compreender-te se tu me ajudasses, posso estar disposto a isso
Mas não posso nada quando explodes, não te consigo entender nessas alturas
Posso habitar a guerra e até gostar disso mas às vezes preciso de um abrigo onde possa descansar longe das ondas violentas e inquietas
Não me é possível repousar em trincheiras onde chovem granadas e não o quero fazer sequer se não compreender o porquê delas choveram
Existem coisas que podemos e coisas que não podemos

É só um desabafo, espero que possa…

18/02/09

Os reis e a falta de noção

Tempos houve em que, sem motivo aparente, os reinos de copas, espadas, paus e ouros se encontravam totalmente desfasados. Quando foi conquistada a harmonia, acordou-se que os quatro monarcas deveriam reunir-se periodicamente para debater os assuntos comuns entre os seus reinos.
E assim, seguindo essa tradição foi, recentemente, organizado um jantar em casa da condensa achocolatada do sotaque francês, a namorada da rainha emocional de copas - Joana Satya. Este jantar destinava-se a receber e integrar na assembleia, o recentemente coroado rei de paus – Abdul Nuno, e obviamente também estiveram presentes James Love, o rei mecânico de espadas e o aprumado rei de ouros – Tod azul.
A cerimónia revelou-se bastante agradável e no final, já vermelhos de sangria, resolveram dar um passeio pelo belo bairro alto Lisboeta com a companhia de Mendes, a alucinação colectiva de todo o reino. No entretanto a rainha de copas e a condensa achocolatada decidiram ir visitar a casa salto alto e os outros ficaram juntos na rua recanto, partilhando assuntos e alegrias variadas.
Mais tarde, avistaram no cimo da rua uma amiga comum a todos - Marta, conhecida por ser a proprietária do maior bordel do reino. A rapariga juntou-se ao grupo e rapidamente recomeçaram as conversas até que todos repararam numa pequena criatura que havia seguido Marta. Esta criatura que estática facilmente passaria despercebida, conseguiu obter a atenção de todos quando iniciou um desfile pela rua recanto.
O rei de espadas fitou-o com um pouco mais de desdém nos olhos que o habitual, enquanto murmurava para os seus companheiros: -
“O que é aquilo?”
“Não faço ideia nenhuma” – respondeu-lhe Tod azul, totalmente estarrecido com o que via – “Mas não é de ouros. Não têm classe para tal!”
“Também não é de espadas. Falta-lhe atitude, postura e porte.”
“Mas também lhe falta modéstia para ser de paus” – relembrou a alucinação – “E claramente que não pertence ao reino de copas.”
E então como que a dar a resposta, o estranho ser pegou em alguns objectos e encetou um desajeitado malabarismo para divertir o rei de paus.
“Pertence ao reino catástrofe.” – Concluiu o rei mecânico – “Só pode ser.”
Os três reis prosseguiram depois o passeio com caricas para sítios mais refinados e não voltaram a ver o pequeno e estranho organismo por essa noite.

07/01/09

Apetecias-me... Agora...
























Apetecias-me... Assim...

15/12/08

Carta a um cão

O que posso eu escrever-te? A ti que foste o primeiro e o ultimo?
Tu que aparentavas um sorriso tão ingénuo mas que se revelou tão nefasto.
E sim tu, com os teus lábios castanhos que me cheiravam a canela mas que ao paladar foram tão tóxicos como heroína.
Antes de ti era um rei que todas as noites se sentava numa poltrona e do cimo da minha torre feita de sombras contemplava, com um sorriso de prazer, o horizonte mórbido. Com um sorriso sim, o meu mundo era mórbido mas eu gostava dele assim.
Tu, pelo contraio, não gostavas dele tanto como aparentavas, e mesmo sendo livre de abandona-lo, foste o sismo que me deixou soterrado sob os seus escombros. Senti-te como trepadeiras espinhosas entrelaçadas no meu coração, senti-te um frio insuportável que me congelou os brônquios, e senti-te um enxame negro a bloquear totalmente a luz ao meu mundo.
Destruíste-me o que era superficial, destruíste a minha capacidade de demonstrar afecto, destruíste a minha vontade de amar, destruíste a minha auto-estima e o mais irónico, destruiste tudo isso sem que assim o desejasses.
O superficial foi preenchido pelo frio metálico e foi assim que passei a ser totalmente automático.
Desejei que morresses,

que tivesses um acidente e uma merda qualquer se enterrasse no teu cérebro. É de facto um desejo vergonhoso, mas porque desapareceste depois de ter sido sincero contigo? Não pude falar, não pude descarregar a minha frustração, não pude explicar-me, não pude fazer nada a não ser continuar a sentir-me uma grande merda.
Cinco anos, cinco merda de anos, para que voltasse a conseguir dizer algo tão simples como “gosto de ti”, para que conseguisse estar no mesmo sitio que tu, para que conseguisse entregar-me a alguém, para que reconstruísse tudo o que destruíste… Para que conseguisse escrever-te isto.
Hoje tenho marcas no corpo que me relembram de ti mas agora compreendo que naquela altura sonhava demais, naquela altura embriagaste-me de ti.
Sei que não vais ler, mas ainda assim escrevo-te. Escrevo-te para me despedir, para dizer que finalmente apaguei o último vestígio de ti.

Adeus

27/11/08

Puta




“…”
Porque?
“…”
Pareço o quê?
“…”
Não sejas estúpido!
“...”
Dizem isso? Que digam! Não passam de uns merdas invejosos…
Cínicos, fúteis. Não tenho paciência. Não me interessam.
“...”
Aparento o que quiser. Visto o que quiser. Sou o que quiser.
“…”
Devias chamar-me isso mais vezes! Mas não, isso é o que quero aparentar.
“…”
Sou o que não conheces.

09/10/08

Seelenschmerz

02 - Seelenschmerz - Blutengel

Kannst du für mich ein Engel sein
Kannst du für mich schuldig sein
Stellst du dich ins weiße Licht
Meine Augen siehst du nicht
Glaubst du noch an meine Lügen
Willst du dich nur selbst betrügen
Krallst dich viel zu fest an mich
Bitte, bitte glaub mir nicht

Kannst du für mich ein Engel sein
Kannst du für mich schuldig sein
Stellst du dich ins weiße Licht
Meine Augen siehst du nicht
Glaubst du noch an meine Lügen
Willst du dich nur selbst betrügen
Krallst dich viel zu fest an mich
Bitte, bitte glaub mir nicht

Kannst du in meiner Seele lesen
In meinen Träumen bin ich jede Nacht allein

E assim partilho esta “Seelenschmerz” com vocês. Quem souber alemão safa-se quem não temos pena. Muahahahah! just kidding, pode ser que eu depois poste uma tradução.

12/09/08

Momentos de raiva

Às vezes acendendo-me de raiva.
Uma ignição mais que explosiva,
transgride-me a alma, abafa-me a psique

Às vezes acendendo-me de tal fúria
que se liberta-se um bicho
esfola, esventra, emite sons estranhos… Parece-me que uiva

Quando me acendo, apago-me
Quase não me controlo, quase que não sou eu
Por instantes apetece-me bater-te, magoar-te
Apetece-me destruir aquele pequeno mundo que é teu

Invade-me o frio metálico e todo eu sou egoísta
mas são momentos estranhos, diferentes de qualquer outra tara
Não me descontrolo, sou antes controlado
Apetece-me calçar umas botas e com elas desfazer-te a cara
Apetece-me partir-te os joelhos, arrancar-te o maxilar
Pisar-te enquanto estas no chão e rir-me de te ver a chorar

Sim. Às vezes acendendo-me em cólera.
Foi mais um instante breve, mas sincero.
Penso numa possibilidade e assusto-me!
Imaginei esse bicho liberto…

25/07/08

Homem de Foz Côa

Sonhei-te.
Deitado na minha cama, debaixo do meu corpo
Um réu preso a uma trama, sonhei-te acorrentado pelo pescoço
Não distinguias a luz encarnada vendado
Na tua pele, a cera marcada sentias
Na minha cama sedado, o que eu queria tu fazias

A tua pelve presa entre as minhas botas, entre as pernas o teu torso
Éramos dois animais de tesão, éramos dois corpos num coito
Uma envolvência brutal, banal que evoluiu para uma excepção

Sonhei-te, é verdade…
Deitado na minha cama, debaixo do meu corpo
Numa sexualidade perversa de quem não ama
Contudo depois de feito a temperatura era diferente
O frio metálico era inexistente e eu deitei-me ao teu peito

Sonhei-te, sonhei-me
Não te assustes que foi apenas um sonho
Mas foi bom… Libertei-me

18/05/08

Gostos

Gosto do teu objecto
Gosto do odor intenso e do sabor salgado
Gosto de o ver, de o lamber, de massaja-lo
Gosto de senti-lo, gosto de prova-lo
Gosto de o abocanhar, gosto de o engolir
Gosto que o roces na minha cara
Gosto de mama-lo
Gosto do teu objecto… Não gosto de ti
Na verdade não te suporto sequer, mas do teu objecto… gosto

23/04/08

Amante automático

Entre faces conhecidas a tua apenas me soou a familiar
Não sabia de onde, não era importante, ainda assim soubeste explicar
Minutos mais tarde voltei a ver-te, estavas mais desfocado
Mais perto, mais quente e mais interessado

Beijaste-me, toquei-te, agarraste-me, algemei-te
Num suceder de acções minhas e tuas inchaste, cresceste, endureceste …
Toquei-te, senti-te. Fugiste! Assustei-te?
Desculpa a falta de emotividade mas sou assim, frio metálico… Um amante automático

Não demorou muito para voltares e beijares-me de novo
Depois de te sentir como senti não tinha duvidas que voltavas
Querias-me, mas havia um alguém que amavas - Disseste
“Ama quem quiseres” - Beijei-te, indiferente e apático porque sou assim… Um amante automático

Queria oferecer-me, queria provar-te
Amares alguém exacerbou-me, soubeste ligar-me
Se fosses outro não seria diferente
O botão era o mesmo e o prazer suficiente

Os teus dedos invadiram-me, enquanto te provava o suor
Provei-te a saliva, provei-te o esperma, provei-te o odor
Sabias aos outros e num beijo provaste-te
Foi errado, foi problemático, foi bom… Foi automático

Intrigaste-me! O que procuravas, fiquei sem saber
Foi o álcool? Foi o ambiente? Farto de romantismo?
Querias prazer por prazer? Uma mistura de tudo isto e algo mais?
Querias frio metálico… Dei-te sexo automático