20/04/09

Dignificação

Fui eu, fui outros, fui o que quis ser e o que não queria
O meu eu decompôs-se em tantos análogos
Que quando os tentei associar de novo já não conseguia

Quis experimentar tudo, quis fazer tudo, quis possuir tudo
Por provar não ficaram festas, drogas nem pessoas
Fartei-me de fingir, fartei-me de aparências, fartei-me do mundo
Fartei-me das drogas, das festas mas ainda mais das pessoas

Perdi a noção do ridículo, perdi a paciência para modas

Acordei em sítios que não reconheci a princípio
Acordei com tufões por detrás dos olhos mas que zuniam fora dos ouvidos
Fiz sexo no meio da rua, fiz sexo com desconhecidos
Ocupei-me mais de decadência do que dos que me eram queridos
A esses, estranhamente foi a quem ofereci mais luta
Fui egoísta, fui mau, fui bom, fui morto fui até ... uma puta

Como disse fartei-me. Fartei-me de festas. Fartei-me de ressacas
Fartei-me de desconhecidos, fartei-me de quecas baratas
Fartei-me de invejas e críticas vindas de falhados
Porque sem o desejar tive aquele que mais desejam
Nunca estive com substitutos, nunca existiram usados
Talvez um dia se mordam e em merda se desfaçam

E então cheguei aqui, chegou a altura para recomeçar
Quem recupera a auto-estima pode recuperar a dignidade
Cheguei ao ponto onde deixo de rastejar para começar a escalar
Quem mentiu como menti já não consegue oferecer cordialidade

Visto-me de espinhos de novo